segunda-feira, 7 de junho de 2010

Alfonsina y el mar

Aproximou-se silenciosamente da alta escarpa. Contemplou demoradamente as águas que pareciam quebrar preguiçosamente nas pedras negras. O vento a cortava como se um estilete tivesse mas ela apenas espremia os lábios finos e ressecados em ferrenha oposição.
Os cabelos insistiam em cobrir sua visão como se quisessem poupá-la do sofrimento causado pela carícia gélida vinda do mar. Seus olhos lacrimejavam e era difícil dizer se pelo frio ou pela tristeza.
Estava sozinha. Mais do que nunca, só.
Não contava a ninguém que angústias iam dentro de si, não falaria, talvez escrevesse. Talvez. Escrever era sua vida, embora mesmo isso agora lhe parecesse difícil.
O sol nascera e estendia seus dedos luminosos sobre as rochas escurecidas e limosas. Pássaros marinhos faziam sua ronda.
As vagas quebravam se sombra de dó e a chamavam:
"Alfonsina, Alfonsina!"
Ela com a alma sensível, comum aos poetas, ouviu.
E, pela última vez, mirou o céu azul e frio.
Entregou-se ao abraço gélido das profundezas marinhas.

Alfonsina Storni foi uma poetisa de origem argentina que suicidou-se andando em diração ao mar em 1938 aos 46 anos.
Seu trágico destino foi registrado na canção "Alfonsina y el mar", gravada por inúmeros intérpretes mas imortalizada pela grande Mercedes Sosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário