
Os cabelos insistiam em cobrir sua visão como se quisessem poupá-la do sofrimento causado pela carícia gélida vinda do mar. Seus olhos lacrimejavam e era difícil dizer se pelo frio ou pela tristeza.
Estava sozinha. Mais do que nunca, só.
Não contava a ninguém que angústias iam dentro de si, não falaria, talvez escrevesse. Talvez. Escrever era sua vida, embora mesmo isso agora lhe parecesse difícil.
O sol nascera e estendia seus dedos luminosos sobre as rochas escurecidas e limosas. Pássaros marinhos faziam sua ronda.
As vagas quebravam se sombra de dó e a chamavam:
"Alfonsina, Alfonsina!"
Ela com a alma sensível, comum aos poetas, ouviu.
E, pela última vez, mirou o céu azul e frio.
Entregou-se ao abraço gélido das profundezas marinhas.
Alfonsina Storni foi uma poetisa de origem argentina que suicidou-se andando em diração ao mar em 1938 aos 46 anos.
Seu trágico destino foi registrado na canção "Alfonsina y el mar", gravada por inúmeros intérpretes mas imortalizada pela grande Mercedes Sosa.
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