terça-feira, 24 de abril de 2012

Manhãs


Acabo de abrir as janelas e deixo o sol entrar, tingindo as frestas, partes escuras, desvãos. Luz quente e pura que traz aconchego para o corpo e a alma.
Assim posso admirar o céu num azul irretocável, pintado à mão, acho eu. Cheiro as flores desabochadas sob o orvalho que a madrugada deixou. Sem medo de caminhar porta afora entre as ruas salpicadas de verde e vermelho e amarelo e azul. Cores.
Há canteiros de madressilvas sorridentes e lisiantus marotos, aqui e ali. Damas da noite isones ainda dançam ao sabor fresco da brisa matutina. 
O Bem-te-vi gargalha de satisfação num fio logo ali. O abacateiro sombreia gentilmente, desmentindo sua rudeza e tamanho. Serve de casa ao sabiá e sua família. O Alma-de-gato vem visitar e vai ficando.
Então acabo de me lembrar que a vida segue no seu ritmo ditado devagar sobre linhas infinitas e tênues qual a seda tecida de outrora.
Chego à alameda e sou saudado por frondosas matronas castanheiras entrelaçadas graciosamente sobre a rua deserta.
Só aí percebo que saí sem nada nos pés ou nas mãos para fotografar essa manhã única com minha retina e minha memória.
Espero poder voltar amanhã...

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