terça-feira, 17 de novembro de 2009

Morreu Lena Marrom


Lena Marrom era uma dessas ‘big mamas’ que a gente vê naqueles filmes americanos onde só aparecem negros atuando, sabe? Uma daquelas mulheres que já beiram os sessenta anos, que tem aquela simpatia e o poder de aglutinar a família em torno dela.
Lena era uma dessas pessoas que, quando se vai, acaba fazendo com que aquele grupo familiar se disperse por um tempo. As pessoas ficam meio sem ter razão para se reunir.
Toda gente ao se referir a ela, fala de seu sorriso largo, sua alegria, seu jeito de corpo, sempre balançando ao andar, sua habilidade na cozinha...
Ela se foi e deixou inconsoláveis o Betão Mancha, seu marido e suas duas filhas.
Lembro-me que, a uns vinte e poucos anos, talvez mais, Betão havia saído de um relacionamento tumultuado e andava por aí, errando e errando, meio sem rumo mas decidido a mudar de vida. Numa dessas idas e vindas conheceu a Lena. Mulher de personalidade cativante e gênio forte que não tardou a conquistar o negão. O apelido, dado pelo Betão, brincava com o refrão de uma música dos Fat Boys, um grupo de rap que fazia sucesso naqueles dias. Daí ao casamento foi um pulo.
Pois é, o fato é que, dias atrás, depois de tanto tempo de união, Lena saiu de cena. Seu alegre coração calou-se definitivamente e a nossa vida ficou mais vazia..
Mas a história não para por aqui. Vocês não imaginam o que foram o velório e enterro da Lena Marrom. Uma pessoa como a Lena nunca sai à francesa, sem se deixar notar.
Pessoas que não se viam a muito, parentes que estavam distantes e se encontraram novamente, renovaram laços quase esquecidos.
Um pastor não se continha de alegria por saber que uma filha retornou aos braços do pai de todos nós, uma tia que liderou um daqueles cânticos antigos e dolentes, que chegam a doer de tão bonitos e até um enteado deixando um compungido agradecimento.
Sinceramente, acho que, tirando uns malucos por aí, ninguém gosta de ir a velórios. O ambiente normalmente é pesado, as pessoas estão sempre arrasadas e inconsoláveis. Cemitério é cemitério.
Mas, vejam vocês, o dia estava ensolarado, flores por toda parte, o céu, de um azul raro, havia pessoas cantando e sorrindo com lágrimas nos olhos. Até a própria Lena Marrom parecia ter um leve sorriso enquanto partia para a eterna vida.
Esse clima leve e ameno perdurou pelo resto do dia na casa do Betão onde todos, mais uma vez se reuniram com amor e alegria, como sempre faziam, dessa vez em torno da memória da querida Lena Marrom.

Com carinho para minha prima Lucia Helena, a Lena Marrom.
http://www.youtube.com/watch?v=TSYMKUtNuw8&feature=related

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