
Saudade de coisas tolas, importantes ou até das quais nem me lembrava direito.
Saudade do cheiro do mar quando a gente chegava próximo ao cais. Daquele pier que balançava embaixo dos nossos pés e era um exercício de equilíbrio não cair sentado.
Saudade de um bom amigo que sumiu no mundo e nunca mais ouvi falar. Da calçada em volta do hospital onde minha mãe trabalhava que, em determinada época do ano ficava quase toda roxa com o jambolão que caía das árvores imensas.
Saudade do vendedor de paçoquinha que passava na minha rua. O carrinho dele era em forma de maria fumaça e tinha o apito mais agudo do mundo! Dava pra ouvir de longe!
Saudade do Empório Gabo do "seu" Manoel que ficava na rua de baixo e que ainda vendia feijão, fubá, farinha, tudo direto das sacas. Tinha um daqueles baleiros giratórios que ficava em cima do balcão e estava sempre recheado de balas de leite Kids e das famigeradas balas Soft! Tinha uma vitrine embaixo com a tentação de qualquer criança(bom, pelo menos, qualquer criança da época...): maria mole, suspiro colorido, doce de abóbora em forma de coração, aquela casquinha com doce de banana que a gente comia com uma pazinha de madeira, paçoquinha Amor! Ah, as paçoquinhas Amor! Outro dia achei numa banca perto de casa.
Lembrei do arroz amarelo de açafrão que às vezes a gente comia na casa da Dona Dina, nossa vizinha vinda do Pará. Será que ela ainda é viva?
Das bricadeiras na casa do Silvio, que tinha uma avó bravíssima e do Anderson que era budista. Achava aquilo tudo muito estranho e engraçado.
Era sempre bom ir pra escola à bordo do Trolebus que rodava desengonçado pela cidade inteira. Saudade do lanche Mirabel na lancheira e da limonada que sempre amargava até a hora do recreio.
Tudo parecia tão bom.
Senti saudade até do barulho horroroso dos caminhões Fenemê que passavam quase diariamente pela minha rua em direção ao porto.
Engraçado como a gente sente falta de coisas pelas quais não dá um tostão mas, que no fim das contas são as que mais ficam na memória.
Pode até parecer que esse é uma história sobre lembranças pra deixar a gente triste, mas não. Bom, talvez só um pouco.
Mas sabe o que é? São essas coisas que acabam te fazendo sorrir meio sem querer. Sabe aquela saudadinha boa de sentir. Aquela sensação de que a vida é realmente boa por causa dessas bobagens? Então.
Boas lembranças. Coisinhas guardadas com carinho num cantinho qualquer da sua mente. Pode procurar, está tudo lá!
Ninguém joga fora.
Eu consigo ouvir o ruído, sentir até o cheiro.
E você?