segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Os rotos e os rasgados


Tenho orgulho de dizer que trabalho numa das maiores bibliotecas setoriais de ciências humanas da América Latina. Arrisco dizer que somos detentores de um dos mais ricos acervos do país.
Viemos através dos anos sobrevivendo a muitas coisas: falta de interesse do poder público,(já que não fazemos grana, apenas conhecimento), falta de estrutura, de funcionários, de conservação e até de bibliotecários. Isso pra não falar das intempéries e "catástrofes naturais" como inundações, fungos e traças.
Apesar disso, ainda somos referência no país inteiro e isso é largamente reconhecido.
Bom, o que eu queria dizer é que, apesar dessa grandeza, um dos maiores problemas (a qual tenho sérias dúvidas quanto à nossa sobrevivência!) é a pura e simples falta de educação de algumas pessoas que nos frequentam. Não é a falta de educação formal, isso todos aqui tem de sobra mas sim a educação que se traz de casa. Sabe o basiquinho, "bom dia", "com licença", "por favor", "obrigado"? Pois é.
É uma minoria mas que dá um trabalho...
Tive uma colega, já aposentada, que dizia sempre desconfiar de pessoas educadas demais, de gente que sempre se desculpava ou pedia licença pra tudo.
Sei lá, acho que não concordo com isso. Sempre pensei que, quando você não tem mais nada, apenas o seu nome, a educação e o respeito são o que te mantém vivo.
Dito isso, pergunto: Como alguém que não respeita nada nem ninguém, haverá de respeitar livros e o que eles representam?
Diariamente passam pelas minhas mãos quase uma dezena de livros danificados, mais da metade desses, por desleixo ou falta de educação do usuário.
Ora, esses livros são patrimônio público! São seus, meus, de todo mundo e, ao mesmo tempo, não são!
Já perdi a conta de volumes devolvidos que estão rabiscados à lápis, a caneta ou até marca-texto! Livros com marcas de copo, cheirando a cigarro e, pasmem, tem gente que os usa como agenda, com horários de médicos, reuniões e quejandos!
Já recebi livros com capítulos inteiros grifados a caneta, livros de arte com frases e desenhos obscenos.
Acho que dá pra comparar isso com pixações em muros alheios, com depredação de orelhões e ônibus, não é mesmo? Como pessoas que fazem esse tipo de coisa podem se dizer minimamente educadas?
Esta biblioteca está encravada dentro de uma das maiores e melhores universidades públicas do Brasil.
Temos mestres e doutores em um monte de coisa mas tá faltando uma disciplina básica: cidadania.
Apesar de todos esses problemas, este ainda é um lugar fascinante e interessantíssimo pra se conhecer e pesquisar.
Se você estiver interessado(a) em conhecer, dê uma olhadinha em nosso site ou, se puder, faça-nos uma visita!

http://www.ifch.unicamp.br/biblioteca/


foto: Criselli Montipó

2 comentários:

  1. Caraca Sandrão, você disse, tudo. Se um aluno não consegue respeitar um livro que está passando as informações que ele necessita, como essa criatura será um bom "professor doutor" amanhã? É meu querido, EDUCAÇÃO e RESPEITO, não tem nada a ver com classe social ou títulos. Li

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  2. Ô, Li!
    Brigadão por dar o seu recado!
    Bjão!

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